RECORDANDO BENTO XVI ...."Cristianismo não é moralismo"


"Cristianismo não é moralismo", afirma o Papa a seminaristas





Bento XVI: ''O orar, diante dos olhos de Deus, torna-se um processo de purificação de nossos pensamentos''

"Não somos nós que temos de produzir o grande fruto; o Cristianismo não é um moralismo, não somos nós que devemos fazer o que Deus espera do mundo, mas devemos, antes de tudo, entrar neste mistério ontológico: Deus se dá a Si mesmo. Seu ser, seu amar precede as nossas ações e, no contexto de seu Corpo, no contexto de estar n'Ele, identificarmo-nos com Ele, sermos cobertos por seu Sangue, possamos também nós agir com Cristo",


Bento XVI conduziu uma lectio divina a partir do capítulo 15 do Evangelho de São João, que contém a Parábola da Videira. O Papa expressou a alegria de ver que a Igreja vive.

"Permanecer no Senhor é fundamental como o primeiro tema deste trecho. Permanecer: onde? No amor, no amor de Cristo, no ser amado e no amar o Senhor. Todo o Capítulo 15 concretiza o local da nossa permanência, porque os primeiros oito versículos expõem e apresentam a parábola da videira: 'Eu sou a videira; vós, os ramos'", destacou.


O Senhor elegeu um povo para encontrar a resposta de seu amor. Através deste povo, desejaria entrar em uma relação de amor com o mundo. Diante da infidelidade, Deus não desiste.


"Deus encontra uma nova maneira para chegar até um amor gratuito, irrevogável, ao fruto desse amor, à uva verdadeira: Deus se faz homem, e assim Ele próprio se torna a raiz da videira, Ele torna-se a própria videira e, assim, a videira se torna indestrutível. Este povo de Deus não pode ser destruído, porque o próprio Deus entrou, se plantou nesta terra", declarou.



Ser e agir


O Senhor que entrega um novo ser: esse é o grande dom, exclamou Bento XVI.


"O ser precede o agir e deste ser segue o agir, como uma realidade orgânica, para que aquilo que somos, possamos sê-lo também em nossa atividade. Assim, agradeçamos ao Senhor porque nos tirou do puro moralismo; não podemos obedecer a uma lei que está diante de nós, mas devemos agir de acordo com a nossa nova identidade. Assim, já não é mais uma obediência, uma coisa externa, mas uma realização do dom do novo ser".


Ao citar São Tomás de Aquino - "A nova lei é a graça do Espírito Santo" -, o Bispo de Roma explicou: "A nova lei não é um outro comando mais difícil que os outros: a nova lei é um dom, a nova lei é a presença do Espírito Santo que nos foi dado no Sacramento do Batismo, na Confirmação, e nos é dado todos os dias na Santíssima Eucaristia".

Deus visível

A grande novidade, de acordo com o Papa, é que Deus, através de Cristo, se fez conhecer, se mostrou, já não é mais desconhecido, se torna amigo.


 
Com relação ao dualismo que coloca Deus apenas como uma parte da realidade, Bento XVI questionou:


"Mesmo na teologia, incluindo aquela católica, se difunde atualmente esta tese: Deus não é onipotente. Deste modo, se oferece uma apologia de Deus, que, assim, não seria responsável pelo mal que existe amplamente no mundo. Mas que apologia pobre! Um Deus não onipotende! O mal não está em suas mãos! E como podemos nós confiar neste Deus? Como poderíamos estar seguros no seu amor se esse amor termina onde começa o poder do mal?"


No entanto, no rosto de Cristo crucificado, Deus mostra a verdadeira onipotência.


"Para nós, homens de poder, o poder é sempre idêntico à capacidade de destruir, de fazer o mal. Mas o verdadeiro conceito de onipotência que aparece em Cristo é exatamente o contrário: n'Ele, a verdadeira onipotência é amar até o ponto em que Deus possa sofrer: aqui ele mostra sua verdadeira onipotência, que pode chegar ao ponto de um amor que sofre nós. Assim, vemos que Ele é o verdadeiro Deus e o verdadeiro Deus, que é amor, é poder: o poder do amor. E nós podemos confiar-nos ao seu amor onipotente e viver nele, com este amor onipotente".


Missão e justiça
A seguir, o Papa destacou que a alegria de conhecer a Deus leva ao desejo de comunicá-Lo aos outros, bem como que a missionariedade não é um acessório, mas o dinamismo da própria fé.

Ao revelar o rosto de Deus, Cristo transcende o modelo de justiça vigente.
"a verdadeira justiça não consiste em uma obediência a certas regras, mas é o amor, o amor criativo, em que se encontra a riqueza, a abundância do bem. A abundância é uma das palavras-chave do Novo Testamento, Deus sempre dá a si mesmo em abundância. [...] E quem está unido com Cristo, que é ramo na videira, vive por essa lei, não pergunta: 'Posso agora fazer isso ou não?', 'Devo fazer isso ou não?', mas vive no entusiasmo do amor, que não pergunta: 'isto é ainda necessário, ou proibido', mas, simplesmente, na criatividade do amor, deseja viver com Cristo e por Cristo e dar tudo de si para Ele e, assim, entrar na alegria de produzir frutos".

Oração
A alegria é o Espírito Santo, de tal forma que, de Deus, não se deve pedir qualquer coisa, mas o grande dom que é o próprio Deus, apontou Bento XVI.

"A oração é um caminho, eu diria que uma escada: devemos aprender mais e mais para que coisas podemos rezar e para que coisas não podemos, porque são expressões do nosso egoísmo. [...] O orar, diante dos olhos de Deus, torna-se um processo de purificação de nossos pensamentos, nossos desejos. Como disse o Senhor na parábola da videira: devemos ser podados, purificados, a cada dia; viver com Cristo, em Cristo, permanecer em Cristo, é um processo de purificação, e somente neste processo de lenta purificação, de libertação de nós mesmos e da vontade de ter somente para si, está o caminho verdadeiro da vida, se abre o caminho da alegria".

O Papa concluiu sua meditação pedindo que se reze para que Deus ajude a crescer e permanecer em seu amor.
Fonte:Rádio Vaticano

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