REFLEXAO DO EVANGELHO Lc 14, 1.7-14 Sobre a humildade verdadeira

EVANGELHO Lc 14, 1.7-14
«Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado»
O Evangelho dá-nos umas pistas sobre o verdadeiro significado da humildade. “Quando fores convidado para um banquete nupcial”, diz o Senhor, “não tomes o primeiro lugar...quando fores convidado, vai sentar-te no último lugar”. A conclusão do Senhor é magistral. É uma pena! Estamos tão habituados a ouvir isto e mesmo assim deixamos de apreciar este pensamento em toda a sua beleza e grandeza: “Quem se exalta será humilhado e que se humilha será exaltado”.
Costuma-se dizer na espiritualidade católica, citando Santa Teresa de Ávila, que “a humildade é a verdade”, no sentido de que o homem humilde é capaz de reconhecer a verdade da sua vida. Assim, segundo a interpretação de Santa Teresa, ser humilde significa ser consciente de que se é uma simples criatura. Não se deve confundir humildade com “miserabilismo”. O homem humilde, como está na verdade, reconhece objetivamente as suas qualidades e põe-nas a dar fruto, além de que não cai na soberba, porque é capaz de se dar conta de que todas as suas qualidades foram recebidas de Deus.
Tudo isso é verdade e estas considerações são equilibradas e valiosas. Mas falta um elemento importantíssimo: ver a humildade em Cristo e ver com mais atenção a humildade como no-la apresenta o Evangelho. Por exemplo, Cristo, no evangelho de hoje, não disse que o convidado devia sentar-se no lugar que lhe correspondia entre todos os lugares que havia. Disse que devia sentar-se no último lugar. Em realidade, Cristo com esta parábola, como em tantas outras, de forma velada, está a falar de si mesmo, está a falar do modo como ele viveu a humildade e, necessariamente, do modo como a devemos viver. Ele é o Senhor do Céu e da Terra, o Criador de tudo, o poder do qual nada escapa. E, no entanto, Ele morreu como o último dos bandidos. Quis deixar este mundo, momento tão importante, tomando o último lugar e, por isso, na sua humanidade foi elevado ao lugar mais elevado possível.
A humildade de Cristo é descrita de forma extraordinária, por São Paulo, na Epístola aos Filipenses: “Ele tinha a condição divina, e não considerou o ser igual a Deus como algo a que se apegar ciosamente. Mas esvaziou-se a si mesmo, e assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana. E achado em figura de homem, humilhou-se e foi obediente até a morte, e morte de cruz! Por isso Deus o sobre exaltou grandemente e o agraciou com o Nome que é sobre todo o nome...”
Aqui encontramos a humildade de Cristo e a humildade cristã. O Evangelho de São Marcos também a ensina de forma excelente: “O Filho não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos”.
O homem humilde é aquele que vive fora de si mesmo e para os outros. A humildade é a força sobrenatural que nos dá o poder de não mais vivermos centrados em nós mesmos. Quem vive assim, não se preocupa se está bem ou se está mal, se foi humilhado ou louvado, se o trataram com deferência ou com indiferença, porque o seu centro de gravidade é o Outro, Deus, e também os outros.
Viver para os outros, significa somente “fazer coisas para os outros” e fazê-lo todo o tempo. Viver para os outros significa fundamentalmente ter o coração em Deus, viver numa profunda comunhão com Aquele que é a nossa vida. Viver para os outros não quer dizer revolucionar as atividades da nossa vida. Até pode ser que nem mudem muito. Significa sobretudo revolucionar o lugar que ocupa o nosso coração, passando a estar nos outros e, em primeiríssimo lugar, em Deus. Então as atividades, se calhar, não mudam muito exteriormente, mas a intenção é totalmente diversa: trabalha-se para o Reino de Deus.
Se o dom de nós mesmos não partir de uma profunda comunhão de corações com Deus, não partir da oração, passa a ser simplesmente uma atividade voluntarista. A pessoa dá-se aos outros porque acha que é o correto e porque quer dar-se a eles. Quando isso acontece, sem se dar conta, a pessoa facilmente tende a buscar-se a si mesma. Infiltram-se intenções torcidas. Quer ser boa porque se quer ver boa. Falta a humildade. E então cansa-se, esgota-se, não tem as forças, dado que as forças só vêm de Deus e Ele não as dá a quem não atua com humildade.
Assim, vemos que a humildade não é uma virtude dos fracos, mas é força no Espírito, porque permite realizar o que esgotaria outros. Com efeito, o homem humilde esvazia-se de si mesmo para se encher do poder de Deus. O homem importante, precisamente porque é importante e tem muitas responsabilidades nas costas, necessita da força verdadeira de Deus, necessita da humildade. Essa o levará não já a olhar-se no espelho e a considerar o importante que é, mas a olhar para os outros, a descobrir que existe um mundo que precisa dele. E recordemos a frase de que partimos, a do sábio Ben Sirá: “quanto mais importante for, mais deve humilhar-se e encontrara graça diante do Senhor”. Sim, humilhar-se como Cristo, que foi a pessoa mais importante que pisou esta terra...mas não humilhar-se sem Cristo, senão esta pseudo atitude de humildade será de soberba. Com efeito o Senhor disse: “sem mim nada podeis”.
Reflexão: Por ulrish pais
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